quinta-feira, 17 de julho de 2014

Espelho da Copa

Definitivamente, a energia do esporte reinou soberana quando a bola começou a rolar nos gramados. Partidas decididas aos 46 minutos do segundo tempo, viradas espetaculares de placar, explosões de alegria, de desespero, de profunda tristeza dos jogadores, tudo isso nos mobilizou, nos magnetizou. Que coisa boa ligar a TV e o rádio e ter um jogo de alto nível, nem que fosse para ser degustado só por alguns minutos.

A força e a energia do esporte se apresentaram, na Copa do Brasil, com uma vibração muito especial, já garantindo um caráter único ao Mundial da FIFA realizado aqui no nosso país. Os números de médias elevadas de gols e de público nos estádios compravam isso.
Fora de campo, a hospitalidade dos brasileiros e o espírito de confraternização tomaram conta das ruas. 

Recebemos gente do mundo inteiro e, especialmente, os nossos hermanos, de braços abertos. Os gringos se incorporaram definitivamente à nossa paisagem, muitos passaram até a se interessar por atrações mais características dos moradores locais. E compartilharam toda essa experiência pelo mundo, via Facebook, Instagram & Cia. Ganhamos, assim,  uma onda de visibilidade global positiva gerada por milhares de turistas e até mesmo de jogadores de outros países, a partir de suas próprias vivências por aqui. No nosso monitoramento digital, por exemplo, acompanhamos o alemão Podolski elogiando a beleza das praias do Rio e da Bahia e o meia francês Pogba exaltando a timbalada no Pelourinho, em Salvador, e a arquitetura de Brasília.  

Não se pode, portanto, tirar esse brilho da Copa do Mundo que o Brasil realizou.  

Que esses aspectos positivos contribuam para impulsionar, especialmente, as indústrias do turismo e de eventos, cujas cadeias produtivas a elas associadas geram impactos importantes na economia, com impactos significativos na  qualificação e geração de empregos e na economia criativa.

Ainda assim, não podemos varrer para debaixo do tapete os investimentos em mobilidade urbana que ficaram pelo caminho, os atrasos e sobrepreços na construção dos estádios e a sombra que já começa a pairar sobre a utilização futura _ ou melhor, já a partir de agora _ de várias das enormes e caríssimas arenas erguidas pelo País. Nem mesmo o fato de a Copa não ter sido utilizada para resolvermos, de vez, a triste rotina da violência das torcidas, que, infelizmente, deverão voltar à cena nos nossos campeonatos de futebol.

Uma onda de imagem positiva, portanto, não garante uma reputação consolidada.

Reputação, a gente adquire com o tempo, a partir do que faz e não só do que fala, da coerência entre o que faz e o que fala e mostrando que fez o que havia se comprometido a fazer. O Brasil precisa e merece isso. 

Outra lição, essa das mais emblemáticas, é que futebol é equipe, não talentos individuais. Talentos são vitais, podem decidir jogos. Mas como num país, o que decide a qualidade da partida ou da vida é a soma do conjunto. Sem conjunto, não há estabilidade, não há segurança, não há êxito. Isso porque não há cultura de participação, mas de individualidade. Muitas novas lições estão a caminho. Mas, desde já, uma narrativa que vem nascendo nos estádios: o campeão voltou. Diz respeito, ao futebol. Mas poderia muito bem ser adaptada à sociedade brasileira. E por que não, a confiança no futuro voltou? Passada a Copa, a própria história irá falar mais alto. E com ressonância. Será a vez das urnas falarem. Da consciência de que o futuro se faz no presente.

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