terça-feira, 20 de outubro de 2015

Venda seu peixe

Até um passado muito recente, uma carreira bem sucedida se apoiava num sólido currículo, nas boas referências e num curriculum vitae bem elaborado. Os tempos mudaram.

Em tempos de redes sociais e conectividade 7 x 24, nossa imagem não depende apenas de uma boa formação e da apreciação de nossos ex-chefes. Uma boa imagem pública tem que ser construída em rede. Se você faz uma excelente entrevista de emprego, mas depois disso seu futuro empregador tenta ratificar suas qualificações com quem o conhece na Internet e não acha nada, sua credibilidade vai ficar parecida com a de uma nota de três reais.

Hoje profissionais são marcas, que precisam de um posicionamento e visibilidade pública. Prestar bons serviços nas empresas por onde a gente passa é apenas um pré-requisito muito importante. Quem te contrata busca alguém para resolver seus problemas hoje, mas também no médio e longo prazos. Ou seja, seus planos de vida precisam ter um fit com as necessidades da empresa contratante.

Vamos a um exemplo bem simples. Digamos que eu esteja buscando um profissional sênior para minha agência, a RMA. A vaga é para trabalhar em Relações com a Mídia, atendendo a um dos grandes clientes da casa. Mas, quando hoje contratamos alguém para essa função, temos em mente que esse trabalho está se ampliando para abranger também a gestão de perfis em redes sociais, relacionamento com influenciadores, gestão de crises, produção de conteúdos digitais e gestão de plataformas de branded content. Ou seja, estou contratando o presente e o futuro do profissional.

Aí, entrevisto dezenas de candidatos e me fixo em VOCÊ, disparado o melhor currículo dentre todos que conheci. Porém, sua sólida carreira até aqui foi “pão e manteiga”, ou seja, um ótimo trabalho de assessoria de imprensa por onde você passou. Durante a entrevista pergunto a você sobre seu foco na evolução para um perfil mais digital. Você me dá boas respostas, me mostra certificados de cursos de extensão que atendeu e me garante que não é mais 1.0. Mas, a coisa não morre aí.

Depois que você sai de minha sala vou ligar para amigos que o conhecem, vou olhar seu perfil nas redes sociais e tentar descobrir se você tem uma atuação no mercado que transcenda seu atual emprego. Essa sua imagem pública é a cereja do bolo que me convencerá (ou não) de que você é a pessoa certa para a vaga em questão.

Essa imagem pública não pode ser oca. Tem que ser algo sólido, embasado por experiências e vivências comprovadas. Você participa de comunidades virtuais? Ótimo! Quais são elas. Você dá aulas, faz trabalho comunitário, tem um blog, uma página no Youtube? Tudo isso conta ponto, mas eu vou querer conferir. Por essa razão é de vital importância que toda a sua atuação pública sirva a um propósito e quando alguém for olhar de perto vai gostar da imagem.

A outra questão é o posicionamento da sua marca. Você é um ótimo profissional de RM, mas não pretende uma carreira executiva. Isso talvez não me satisfaça. Ou então, você se programou para trabalhar no máximo mais dois anos como empregado e depois quer abrir seu próprio negócio. De novo, esses planos podem coincidir com as necessidades na empresa, ou não. Se minha empresa pretende terceirizar a compra de conteúdos e você sinaliza que gostaria de fazer isso em dois anos, de repente esse pode ser um fit perfeito.

O importante é ter plena consciência de que, nos dias de hoje, nosso perfil e nossas interações são públicos e que o Google sabe tudo. Quando postamos algo no Twitter, no Facebook, ou quando entramos numa discussão polêmica no LinkedIn, ou quando simplesmente curtimos ou compartilhamos um conteúdo de terceiros, tudo isso é analisado por muita gente e pode ter implicações. Todos estão espiando o que você faz e um deles pode ser seu futuro empregador (ou não). 

Pense em você como uma marca líder. Se posicione, faça um bom trabalho, prepare seu book e venda seu peixe.

Augusto Pinto

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Eu falo, você fala e ninguém escuta

Não quero que você entenda mal o título. Aqui não se trata necessariamente de duas pessoas falando ao mesmo tempo, porém o caso clássico que acredito ser o mais comum onde o outro só está esperando sua vez de falar e não necessariamente ouvindo o que está sendo dito.

Falar antes, falar demais ou pressupor o que o outro vai falar é desvantagem na certa (no caso do falar antes, nem sempre). Aqui, o melhor é ser um bom espectador antes de ser interlocutor. É na fala do outro que devem ser buscadas as preocupações, as recomendações e as expectativas. A partir daí, você pondera e contrapõe quase uma negociação. O problema é que numa conversa, quase sempre um quer falar e o outro quer falar ou no máximo aceita esperar o outro acabar de falar, o que não significa escutar.

Já entendeu onde isso vai dar? A comunicação para ser assertiva me lembra a comparação que Rubem Alves faz a respeito de relacionamento, fazendo uma comparação ao jogo de tênis e frescobol. Abaixo um recorte.

“O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada – palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.
O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui, ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra, pois o que se deseja é que ninguém erre.”

A comunicação assertiva é como um jogo de frescobol. Vamos exercitá-la!

Denise Coelho