A rotina de trabalho adotada por muitas
empresas está esgotando os funcionários, matando a inovação e provocando perdas
bilionárias. Saiba como impedir que sua companhia se transforme em uma fábrica
de bitolar profissionais.
Ao exigir de suas já enxutas equipes mais tarefas, com
prazos menores e resultados financeiros maiores, as empresas estão pondo em
risco a sobrevivência de seus negócios.
A
atual rotina de trabalho adotada por grande parte das companhias no mundo faz
com que os funcionários durmam, descansem e — perigo! — pensem menos, matando,
assim, o maior diferencial que uma companhia tem hoje no mercado: sua
capacidade de inovar.
Inimigo
da criatividade e da memória, o cansaço afeta as funções cognitivas e a tomada
de decisão, provoca mais acidentes de trabalho, abre portas para doenças e leva
até a comportamentos antiéticos. E isso tudo tem um custo.
Um
estudo conduzido por pesquisadores de diversas universidades americanas e
europeias indica que as companhias americanas perdem 63,2 bilhões de dólares
com os males da fadiga. A fórmula é simples: quanto mais cansaço, menor a
produtividade do funcionário, da empresa e, consequentemente, do país.
A
produtividade brasileira no trabalho cresceu a uma taxa anual de mísero 1% de 2000 a 2009, de acordo com
uma pesquisa divulgada recentemente pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea).
Diversos
fatores podem explicar essa estagnação na produtividade — e um deles é
justamente o desgaste dos funcionários.
“Muitas
organizações, pensando em maximizar os lucros, cortam as equipes e esperam que
os empregados realizem as tarefas daqueles que saíram. Mas o que acontece é que
a produtividade cai juntamente com os custos da folha de pagamentos”, diz o
professor da Universidade do Sul da Flórida Paul Spector, que há anos estuda
ambientes de trabalho contraproducentes.
A
pressão por resultados no curto prazo faz com que as pessoas limitem seu
trabalho às ordens imediatas — nada mais.
Na
visão do psiquiatra e consultor organizacional Frederico Porto, o aumento das
demandas, a concorrência e a falta de descanso têm um impacto de longo prazo
nas organizações. “A falta de trégua causa no indivíduo o mesmo efeito de uma
lobotomia: ele não consegue pensar.”
A
pane de ideias não se restringe a um grupo específico de profissionais, mas
tende a atingir os trabalhadores mais qualificados, já que, quanto mais títulos
no currículo, mais puxada promete ser a rotina de trabalho.
De
acordo com Carla Tieppo, neurocientista e professora da Faculdade de Ciências
Médicas da Santa Casa de São Paulo, as consequências geradas por esse ritmo
insano de trabalho são ainda mais nefastas quando se espera o surgimento de
novas ideias.
Carla
explica que, para criar, o lado esquerdo do cérebro — responsável pela
linguagem semântica — precisa “falar menos”. Esse é o lado que, ao olhar para
uma caneta, por exemplo, vai associá-la ao objeto usado para escrever.
Quando
alguém está focado em cumprir prazos e bater metas está usando apenas esse lado
do cérebro e, portanto, só fará associações mecânicas como essa.
Nunca
usará o outro hemisfério do cérebro — o linguístico —, responsável por olhar a
caneta e enxergar ali um uso completamente diferente.
Para
isso acontecer, primeiro a pessoa precisa de tempo, depois de liberdade e, por
fim, de conteúdo. Três elementos difíceis de encontrar ao mesmo tempo no atual
cenário corporativo.
Assunto, este, extenso e pouco evidente, que daremos continuidade nas próximas
publicações...
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