segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Fábricas de bitolar profissionais

A rotina de trabalho adotada por muitas empresas está esgotando os funcionários, matando a inovação e provocando perdas bilionárias. Saiba como impedir que sua companhia se transforme em uma fábrica de bitolar profissionais.

Ao exigir de suas já enxutas equipes mais tarefas, com prazos menores e resultados financeiros maiores, as empresas estão pondo em risco a sobrevivência de seus negócios.
A atual rotina de trabalho adotada por grande parte das companhias no mundo faz com que os funcionários durmam, descansem e — perigo! — pensem menos, matando, assim, o maior diferencial que uma companhia tem hoje no mercado: sua capacidade de inovar.
Inimigo da criatividade e da memória, o cansaço afeta as funções cognitivas e a tomada de decisão, provoca mais acidentes de trabalho, abre portas para doenças e leva até a comportamentos antiéticos. E isso tudo tem um custo.
Um estudo conduzido por pesquisadores de diversas universidades americanas e europeias indica que as companhias americanas perdem 63,2 bilhões de dólares com os males da fadiga. A fórmula é simples: quanto mais cansaço, menor a produtividade do funcionário, da empresa e, consequentemente, do país.
A produtividade brasileira no trabalho cresceu a uma taxa anual de mísero 1% de 2000 a 2009, de acordo com uma pesquisa divulgada recentemente pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Diversos fatores podem explicar essa estagnação na produtividade — e um deles é justamente o desgaste dos funcionários.
“Muitas organizações, pensando em maximizar os lucros, cortam as equipes e esperam que os empregados realizem as tarefas daqueles que saíram. Mas o que acontece é que a produtividade cai juntamente com os custos da folha de pagamentos”, diz o professor da Universidade do Sul da Flórida Paul Spector, que há anos estuda ambientes de trabalho contraproducentes.
A pressão por resultados no curto prazo faz com que as pessoas limitem seu trabalho às ordens imediatas — nada mais.
Na visão do psiquiatra e consultor organizacional Frederico Porto, o aumento das demandas, a concorrência e a falta de descanso têm um impacto de longo prazo nas organizações. “A falta de trégua causa no indivíduo o mesmo efeito de uma lobotomia: ele não consegue pensar.”
A pane de ideias não se restringe a um grupo específico de profissionais, mas tende a atingir os trabalhadores mais qualificados, já que, quanto mais títulos no currículo, mais puxada promete ser a rotina de trabalho.
De acordo com Carla Tieppo, neurocientista e professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, as consequências geradas por esse ritmo insano de trabalho são ainda mais nefastas quando se espera o surgimento de novas ideias.
Carla explica que, para criar, o lado esquerdo do cérebro — responsável pela linguagem semântica — precisa “falar menos”. Esse é o lado que, ao olhar para uma caneta, por exemplo, vai associá-la ao objeto usado para escrever.
Quando alguém está focado em cumprir prazos e bater metas está usando apenas esse lado do cérebro e, portanto, só fará associações mecânicas como essa.
Nunca usará o outro hemisfério do cérebro — o linguístico —, responsável por olhar a caneta e enxergar ali um uso completamente diferente.
Para isso acontecer, primeiro a pessoa precisa de tempo, depois de liberdade e, por fim, de conteúdo. Três elementos difíceis de encontrar ao mesmo tempo no atual cenário corporativo.
Assunto, este, extenso e pouco evidente, que daremos continuidade nas próximas publicações...

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