Li certa vez um artigo com o título Lamento
Borincano, baseado em uma canção latina que conta a história de um
campesino que vai todo feliz para a cidade vender suas mercadorias. No caminho
faz planos maravilhosos para a família e para o lugar onde vive, já contando
com os belos resultados das vendas que conseguiria. Porém, não vende nada, a
canção não explica o porquê do seu fracasso como vendedor. Volta melancólico,
lamentando a falta de sorte. Ou seria sua incompetência em colocar produtos no
mercado? A música pode ser ouvida no YouTube, inclusive cantada por Caetano Veloso e é de uma choradeira só. O autor do
artigo discorre sobre a atitude dos latinos americanos que frente às
dificuldades da vida gastam tempo e energia em intermináveis lamúrias a espera
que um poder maior resolva seus problemas, em vez de focar na solução. Poderes
representados por governos, instituições, políticos ou entidades
sobrenaturais.
Há pouco tempo deparei-me com um ditado
popular muito utilizado nos países escandinavos: “Não existe tempo ruim, a
roupa é que é inadequada.” Procurei saber mais sobre o conceito desta expressão
e descobri que ela quer dizer: adapte-se às condições do tempo, esteja ele
congelando ou não. Isto é, foque na resolução dos seus problemas em vez de
ficar em casa reclamando que lá fora está frio. O povo nórdico não fica se
lamentando da difícil vida que leva, sabe que se não resolver seus problemas de
forma prática poderá morrer de frio, então vai à luta com determinação, não se
importando com as condições adversas.
Por outro lado, nós latinos, com toda a
natureza a nosso favor - sol, água, terras boas, recursos minerais abundantes e
rica biodiversidade -, gostamos de ficar lamentado nossas dificuldades e pouco
fazemos para resolvê-las. Lamúrias parecem fazer parte do nosso DNA.
Lamentar-se ao invés de agir é uma forma de viver, um alívio psicológico contra
as mazelas do dia a dia. Comemos o fruto proibido, fomos expulsos do paraíso e
agora só nos resta reclamar. A choradeira latina acaba de transformando em uma
espécie de bálsamo, uma justificativa para não se fazer nada, um convite à
preguiça e ao deixe estar que tudo se resolverá sozinho.
Em quase todas as empresas em que presto
consultoria ou realizo workshops, escuto tanto por parte das diretorias quanto
dos funcionários - geralmente vendedores - uma ladainha interminável de
lamentações e choros para justificar a falta de ação. Os culpados são sempre os
outros: vendedores reclamam falta de apoio, de amostras, de bons planos para
negociação, de entregas, de bons produtos e da atenção dos seus supervisores.
Patrões reclamam falta de compromisso, de interesse no trabalho e de
agressividade nas abordagens de vendas. Administradores reclamam falta de
equipamentos, de processos, de sistemas e de verba. Tudo vira um grande muro
das lamentações, sem que ninguém aja para se fazer algo de útil e prático em
prol das causas comuns.
Não fizemos a assistência ao cliente porque
não tínhamos a peça. Não arrumamos a estrada porque não é da nossa
responsabilidade. Joguei lixo no chão porque não tinha recipiente para
colocá-lo. É sempre assim, vemos as coisas erradas na empresa, no governo, na
polícia, no trânsito, nas escolas e, em vez de agir para solucioná-las nos
entregamos às lamentações, carpideiras do cotidiano.
Costumamos apresentar desculpas para tudo: Não
fui ao curso porque estava chovendo. Não estudei porque não tive tempo. Não
arrumei tal coisa porque o homem não veio...
Essa maneira de pensar e agir são suscetíveis
a muitos equívocos emocionais para ser considerado um padrão de avaliação
confiável para a vida. Comumente é pessimista. Considerando uma determinada
situação como sendo muito difícil de ser superada, imagina-se que não haja
solução para tal. Mas sempre há.
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