quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Seu emprego ameaçado?

"A vaga que você ocupa hoje poderá ser dada a alguém mais qualificado amanhã"

Mais de 200 milhões de pessoas estão desempregadas no mundo. O número foi divulgado no último dia 20, pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). O Brasil perdeu 450 mil postos em dezembro e fechou 2013 com o pior resultado em dez anos na criação de empregos formais. Apesar disso, nosso País gerou 1,117 milhão de vagas no ano passado, segundo o Ministério do Trabalho e dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

A previsão para os próximos anos não é muito otimista. Até 2018, a OIT projeta que a abertura de vagas será menor do que o número de pessoas que ingressam no mercado de trabalho. Isso quer dizer que a criação de novos postos não vai beneficiar todas as pessoas interessadas. Diante dessa perspectiva, quem estiver preparado para os novos desafios do mercado de trabalho pode sair na frente. Mas, afinal, de que forma a economia interfere no dia a dia de quem busca uma colocação? Como identificar novas oportunidades? Qual é o perfil do profissional do futuro?

Qualificação é a resposta para quem deseja se destacar diante das novas tendências. Essa é a opinião da especialista em mercado de trabalho e professora do Insper, Regina Madalozzo. Ela explica que a criação de postos no mercado de trabalho depende do crescimento econômico. Com a desaceleração mundial da economia e os reflexos da crise, a geração de empregos também diminuiu.

Regina destaca, entretanto, que o Brasil está em situação favorável. “Nós continuamos gerando mais empregos do que outras nações, mas não no mesmo ritmo verificado entre 2004 e 2011. As empresas vão procurar pessoas cada vez mais qualificadas”, analisa.

Para a especialista, o profissional do século 21 deve cultivar um “incômodo saudável”, ou seja, uma inquietação constante para se desenvolver. Estudar, fazer cursos de atualização, aprender outro idioma e procurar formas de se atualizar podem garantir promoções ou mesmo uma nova chance. “Trabalhar de forma eficiente, ter disponibilidade para encarar desafios e desenvolver um plano B são atitudes importantes. Não pode desistir diante da primeira negativa nem se acomodar”, ensina.

Já o consultor de carreiras Gustavo de Lopes destaca que polivalência e flexibilidade são outros requisitos. “Hoje, o trabalhador deixa de apenas ‘fazer’ para ‘perfazer’. Ele não só executa, mas pensa no processo como um todo, cria, aplica, critica, aprende e apresenta novas soluções para ‘o que fazer’ e ‘como fazer’”, defende.

Primeiro emprego

Yolanda Brandão, coordenadora de treinamento do Nube, lembra que os jovens são a parcela mais vulnerável da população. Para driblar a falta de experiência, ela explica que eles devem investir em competências comportamentais e buscar vagas de estágio. “Iniciativa, vontade de aprender, comunicação e capacidade de trabalhar em equipe na maioria das vezes pesam mais que habilidade técnica”, diz. Fazer cadastro em sites, organizar um bom currículo, valorizar experiências como trabalho voluntário e viagens, ser pontual e pesquisar sobre o mercado são outras dicas.

Aline Almeida de Oliveira, de 21 anos, garante que os conselhos de Yolanda são infalíveis. Há quase quatro anos, a jovem conquistou o primeiro emprego em uma empresa de planos de saúde de forma parecida. Aline estudou tudo sobre a empresa em que faria entrevista, pediu ajuda de amigos para fazer o currículo e treinou na frente do espelho para controlar a timidez. “Fui com a cara e a coragem, não tinha experiência. Consegui a vaga de atendente de telemarketing e em cinco meses fui promovida para a área financeira”, relembra. Mas qual o segredo para obter o sucesso tão rapidamente? “Abracei a oportunidade de estudar e me esforcei. Acho que compromisso e responsabilidade são primordiais para manter o emprego”, diz Aline, que deseja fazer pós-graduação neste ano.

Negócio próprio

Além da preocupação com o emprego formal, há outra parcela crescente da população brasileira investindo no próprio negócio. Para alguns, empreender é questão de sobrevivência, mas a maioria já aposta em ideias inovadoras para encontrar mais satisfação ou melhorar os rendimentos. O número de empreendedores no Brasil cresceu 44% em dez anos, segundo pesquisa da Endeavor.

O comerciante Mário Santos Costa, de 54 anos, faz parte dessa estatística. Depois de atuar alguns anos como operário na região do porto de Santos, no litoral de São Paulo, ele percebeu que o trabalho não oferecia perspectiva de crescimento. “Eu morava no morro, andava de bicicleta e sempre estava sem dinheiro. Não conseguia mudar aquela situação”, conta. Ele começou a observar os vendedores de rua e decidiu comprar alguns produtos para revender, como carregadores de celular, roupas, guarda-chuva e sapatos.

Mário afirma que a iniciativa, a coragem e a capacidade de enxergar além são seus diferenciais. “Comecei aos poucos, vendia de porta em porta. Os lucros foram aumentando e fui comprando mais mercadorias, até que comecei a ganhar mais do que no meu emprego e pedi demissão”, revela Mário, que continuou investindo no comércio. Hoje ele possui um depósito de produtos, participa de leilões de mercadorias e as revende no atacado e no varejo. “Confiei no meu potencial. Tenho carro, apartamento na praia e vivo feliz com minha esposa. Mesmo sem estudo, aprendi a usar a cabeça e coloquei o dinheiro para trabalhar por mim”, arremata.

Temos vagas!

Enquanto muita gente envia currículo para empresas tradicionais e sofre para ser escolhido, outros descobriram o pulo do gato: o emprego dos sonhos pode estar na esquina de casa.

Os pequenos negócios contrataram mais de 1 milhão de brasileiros em 2013, de acordo com dados compilados pelo Sebrae com base no Caged. As micro e pequenas empresas foram responsáveis por 88,3% do total de empregos formais gerados no País entre janeiro e novembro. Pequenos negócios são empreendimentos com faturamento anual inferior a R$ 3,6 milhões. Gustavo de Lopes destaca que empresas de menor porte têm menos competitividade e mais espaço para o desenvolvimento de talentos. “Esses empregadores buscam profissionais que queiram se desenvolver junto com a empresa, constituir legado e garantir sustentabilidade na gestão”, avalia.

Além do dinheiro

Buscar atividades prazerosas, que tenham identificação com o perfil pessoal, também deve ser uma meta. Afinal, como passamos boa parte de nosso tempo no trabalho, a motivação não pode se limitar ao salário. É o que esclarece o administrador de empresas e presidente do Grupo AfixCode, Orlando Oda.

Para Oda, o significado do trabalho é aliviar e facilitar a vida de outras pessoas. “Quando trabalhamos estamos sempre produzindo algo para suprir necessidades e facilitar a vida de alguém. Nunca faltará oportunidade para quem estiver disposto a trabalhar para beneficiar as pessoas”, conclui.

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