"A vaga que você ocupa hoje poderá ser dada a alguém mais qualificado amanhã"
Mais de 200 milhões de pessoas estão desempregadas no mundo.
O número foi divulgado no último dia 20, pela Organização Internacional do
Trabalho (OIT). O Brasil perdeu 450 mil postos em dezembro e fechou 2013 com o
pior resultado em dez anos na criação de empregos formais. Apesar disso, nosso
País gerou 1,117 milhão de vagas no ano passado, segundo o Ministério do
Trabalho e dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
A previsão para os próximos anos não é muito otimista. Até
2018, a OIT projeta que a abertura de vagas será menor do que o número de
pessoas que ingressam no mercado de trabalho. Isso quer dizer que a criação de
novos postos não vai beneficiar todas as pessoas interessadas. Diante dessa
perspectiva, quem estiver preparado para os novos desafios do mercado de
trabalho pode sair na frente. Mas, afinal, de que forma a economia interfere no
dia a dia de quem busca uma colocação? Como identificar novas oportunidades?
Qual é o perfil do profissional do futuro?
Qualificação é a resposta para quem deseja se destacar
diante das novas tendências. Essa é a opinião da especialista em mercado de
trabalho e professora do Insper, Regina Madalozzo. Ela explica que a criação de
postos no mercado de trabalho depende do crescimento econômico. Com a
desaceleração mundial da economia e os reflexos da crise, a geração de empregos
também diminuiu.
Regina destaca, entretanto, que o Brasil está em situação
favorável. “Nós continuamos gerando mais empregos do que outras nações, mas não
no mesmo ritmo verificado entre 2004 e 2011. As empresas vão procurar pessoas
cada vez mais qualificadas”, analisa.
Para a especialista, o profissional do século 21 deve
cultivar um “incômodo saudável”, ou seja, uma inquietação constante para se
desenvolver. Estudar, fazer cursos de atualização, aprender outro idioma e
procurar formas de se atualizar podem garantir promoções ou mesmo uma nova
chance. “Trabalhar de forma eficiente, ter disponibilidade para encarar
desafios e desenvolver um plano B são atitudes importantes. Não pode desistir
diante da primeira negativa nem se acomodar”, ensina.
Já o consultor de carreiras Gustavo de Lopes destaca que
polivalência e flexibilidade são outros requisitos. “Hoje, o trabalhador deixa
de apenas ‘fazer’ para ‘perfazer’. Ele não só executa, mas pensa no processo
como um todo, cria, aplica, critica, aprende e apresenta novas soluções para ‘o
que fazer’ e ‘como fazer’”, defende.
Primeiro emprego
Yolanda Brandão, coordenadora de treinamento do Nube, lembra
que os jovens são a parcela mais vulnerável da população. Para driblar a falta
de experiência, ela explica que eles devem investir em competências
comportamentais e buscar vagas de estágio. “Iniciativa, vontade de aprender,
comunicação e capacidade de trabalhar em equipe na maioria das vezes pesam mais
que habilidade técnica”, diz. Fazer cadastro em sites, organizar um bom
currículo, valorizar experiências como trabalho voluntário e viagens, ser
pontual e pesquisar sobre o mercado são outras dicas.
Aline Almeida de Oliveira, de 21 anos, garante que os
conselhos de Yolanda são infalíveis. Há quase quatro anos, a jovem conquistou o
primeiro emprego em uma empresa de planos de saúde de forma parecida. Aline
estudou tudo sobre a empresa em que faria entrevista, pediu ajuda de amigos
para fazer o currículo e treinou na frente do espelho para controlar a timidez.
“Fui com a cara e a coragem, não tinha experiência. Consegui a vaga de
atendente de telemarketing e em cinco meses fui promovida para a área
financeira”, relembra. Mas qual o segredo para obter o sucesso tão rapidamente?
“Abracei a oportunidade de estudar e me esforcei. Acho que compromisso e
responsabilidade são primordiais para manter o emprego”, diz Aline, que deseja
fazer pós-graduação neste ano.
Negócio próprio
Além da preocupação com o emprego formal, há outra parcela
crescente da população brasileira investindo no próprio negócio. Para alguns,
empreender é questão de sobrevivência, mas a maioria já aposta em ideias
inovadoras para encontrar mais satisfação ou melhorar os rendimentos. O número
de empreendedores no Brasil cresceu 44% em dez anos, segundo pesquisa da
Endeavor.
O comerciante Mário Santos Costa, de 54 anos, faz parte
dessa estatística. Depois de atuar alguns anos como operário na região do porto
de Santos, no litoral de São Paulo, ele percebeu que o trabalho não oferecia
perspectiva de crescimento. “Eu morava no morro, andava de bicicleta e sempre
estava sem dinheiro. Não conseguia mudar aquela situação”, conta. Ele começou a
observar os vendedores de rua e decidiu comprar alguns produtos para revender,
como carregadores de celular, roupas, guarda-chuva e sapatos.
Mário afirma que a iniciativa, a coragem e a capacidade de
enxergar além são seus diferenciais. “Comecei aos poucos, vendia de porta em
porta. Os lucros foram aumentando e fui comprando mais mercadorias, até que
comecei a ganhar mais do que no meu emprego e pedi demissão”, revela Mário, que
continuou investindo no comércio. Hoje ele possui um depósito de produtos,
participa de leilões de mercadorias e as revende no atacado e no varejo.
“Confiei no meu potencial. Tenho carro, apartamento na praia e vivo feliz com
minha esposa. Mesmo sem estudo, aprendi a usar a cabeça e coloquei o dinheiro
para trabalhar por mim”, arremata.
Temos vagas!
Enquanto muita gente envia currículo para empresas
tradicionais e sofre para ser escolhido, outros descobriram o pulo do gato: o
emprego dos sonhos pode estar na esquina de casa.
Os pequenos negócios contrataram mais de 1 milhão de
brasileiros em 2013, de acordo com dados compilados pelo Sebrae com base no
Caged. As micro e pequenas empresas foram responsáveis por 88,3% do total de
empregos formais gerados no País entre janeiro e novembro. Pequenos negócios
são empreendimentos com faturamento anual inferior a R$ 3,6 milhões. Gustavo de
Lopes destaca que empresas de menor porte têm menos competitividade e mais
espaço para o desenvolvimento de talentos. “Esses empregadores buscam profissionais
que queiram se desenvolver junto com a empresa, constituir legado e garantir
sustentabilidade na gestão”, avalia.
Além do dinheiro
Buscar atividades prazerosas, que tenham identificação com o
perfil pessoal, também deve ser uma meta. Afinal, como passamos boa parte de
nosso tempo no trabalho, a motivação não pode se limitar ao salário. É o que
esclarece o administrador de empresas e presidente do Grupo AfixCode, Orlando
Oda.
Para Oda, o significado do trabalho é aliviar e facilitar a
vida de outras pessoas. “Quando trabalhamos estamos sempre produzindo algo para
suprir necessidades e facilitar a vida de alguém. Nunca faltará oportunidade
para quem estiver disposto a trabalhar para beneficiar as pessoas”, conclui.
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