quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Empresas vs. Pessoas

Este foi um post que rendeu bastante na época em que foi postado. Acho que vocês irão gostar. Em uma das listas que eu assino, discuti com um membro a respeito de um termo que utilizei quando falava da necessidade das empresas reterem conhecimento, e como elas se tornam “REFÉNS” dos seus funcionários. Este termo “refém” foi o motivo de um debate bem interessante.
É claro que eu não acredito que realmente as pequenas empresas sejam, de fato, reféns de seus funcionários. O termo é mais figurativo do que realmente literal, neste caso. O que eu falo com propriedade de quem já viveu em duas pequenas empresas (diria até microempresas) e uma média empresa, é que é preciso de qualquer forma a empresa se tornar independente se seus funcionários.
Vou dar dois casos, um de cada empresa que trabalhei:
Na empresa do meu irmão, uma legítima microempresa, o trabalho consiste em projetos arquitetônicos pelo computador (3D e 2D). Éramos eu, meu irmão, minha cunhada e o funcionário. O funcionário era a pessoa que manjava de TUDO. Ou seja, nós três chegávamos até um certo nível (digamos, modelagem 3D) e o funcionário era o responsável por transformar aqueles objetos brancos e 3D numa fotomontagem realística. Esse processo continua sendo uma caixa preta, até hoje… ou seja, se o funcionário sair da empresa, a empresa vai pro buraco.
Nos projetos da empresa onde estou, a situação é bem parecida. Os desenvolvedores possuem todo o conhecimento dos projetos. Se perdermos os membros do grupo, perdemos todo o conhecimento adquirido.
Vejam, falamos de situação em que micro-pequenas empresas precisam sobreviver dia-a-dia ao mercado burocrático e sufocante que o governo provê… são raríssimas as empresas que conseguem parar, respirar, organizar e seguir adiante. É tudo feito sob-demanda.
Então, a solução, é claro, é fazer as “vontades” dos funcionários. Tornar a empresa atrativa para que estes se sintam satisfeitos e reconhecidos, e assim, permaneçam na empresa.
Mas isso pode ser temporário. Pode surgir uma Dell ou uma HP ou outra empresa de porte semelhante, e pagar um salário 2 ou 3 vezes maior do que o que ele recebe. As chances de perder o funcionário são enormes. Ou ninguém aqui ficaria tentado?
Enfim… eu tentei mostrar como, de forma figurativa, as pequenas empresas são sim reféns de seus funcionários. Isso é bom para as pessoas, sem dúvida. Mas para os gestores, pode vir a se tornar uma constante dor de cabeça… e se os funcionários resolvem usar e abusar disso?
Por essas e outras que eu reafirmo que o capital maior que uma micro-pequena empresa precisa atingir é o CONHECIMENTO. Tendo isso amadurecido, ela pode se dar ao luxo de valorizar as pessoas, que são, obviamente, os motores dessa complexa engrenagem.
O post rendeu dois comentários bem interessantes.
Antes de mais nada, quem acompanha o meu blog sabe o quanto eu tenho de preocupação com a questão PESSOAS. Eu trabalho no nível tático, então tenho que agradar aos funcionários e à diretoria, e ao mesmo tempo lutar para eu mesma estar motivado para realizar isso. Não sou, nem nunca serei, uma extremista ou mesmo adepta de técnicas que visem controlar ou manipular pessoas nas empresas.
Sou daquelas que pensa que um funcionário desmotivado é uma das piores coisas que uma empresa pode ter. Se você duvida, veja meus posts anteriores e veja se estou mentindo.
Aliás a própria ideia do blog, de mudar a pequena empresa onde trabalho, visou exatamente mudar o tripé: pessoas, processos e conhecimento. E é isso que você encontrará neste blog, sempre!
Voltando aos comentários:
O Sr Souza publicou o comentário sobre o assunto no meu blog. Ele concordou comigo na maior parte da minha visão, inclusive indo mais a fundo no conceito. Inclusive fala de um conceito bem-humorado e interessante para mensurar se a sua empresa está no caminho certo ou não. É o chamado “Truck number”, ou seja, quantos funcionários da sua empresa precisariam ser atingidos por um caminhão para que a empresa afundasse. Se o número for pequeno, a empresa tem sérios problemas.
Essa questão de conhecimento x funcionários é crítica para algumas empresas. Que tal a Coca-cola? Quantas pessoas vocês acham que conhecem a fórmula da bebida? São poucas, duvido que passem de dez! Dez pessoas, para quantas milhares de pessoas que trabalham na empresa? Agora imagine se essas dez pessoas estivessem naquele vôo da TAM, que caiu em Congonhas? Qual seria o impacto para a empresa? Por isso é comum que algumas empresas obriguem seus executivos a viajarem em vôos separados.
Se isso é crítico para grandes empresas, o que dizer para micro e pequenas empresas?!? 
Pesquisas apontam que as micro e pequenas empresas correspondem a mais de 90% do mercado mundial! Tendo isso em vista, podemos imaginar que a grande maioria das pessoas atua em micro e pequenas empresas.
Transferindo este cenário para o contexto brasileiro, a coisa fica mais preta ainda. Agora falamos sobre burocracia. Uma micro e pequena empresa precisa de mais de três meses para conseguir funcionar legalmente. Após isso, precisa lutar contra a falta de incentivos do governo (quem vive com tecnologia sabe da dificuldade em ter equipamentos de ponta, já que a “pequena taxa” de importação gira em torno de 60%). Afora isso, temos os impostos e encargos trabalhistas. Pesquisas comprovam que empresas simplesmente torram de 4 a 5 meses de sua receita com impostos e encargos. Resta às pequenas e micro empresas investirem em estagiários.
Mudamos para outro contexto, o da tecnologia. Afora o problema dos equipamentos, já citados acima, temos ainda a questão da mudança constante que o mercado possui. Novidades surgem diariamente. O seu celular de hoje, por exemplo, estará saindo de linha daqui um mês. As pequenas e micro empresas vivem, então, num mundo conturbado… se elas param para respirar, as outras empresas passam por cima. O tempo é escasso, as dificuldades são enormes.
Como a grande maioria das empresas vivem de estagiários, temos uma questão bem interessante. A grande maioria dos estagiários vêem as pequenas empresas como “trampolins” para suas carreiras. Normalmente os estagiários possuem a faixa de idade de 18-22 anos. São jovens, muitos ainda sem noção exata de compromisso e responsabilidade (ainda bem que existem exceções, como eu mesmo já convivo com alguns!).
São jovens brilhantes, na maioria. Mas que tendem a não “se acomodar” em ficar em apenas uma empresa. Eles sempre querem novos desafios, novas realidades, novos projetos. Então eu pergunto: como a pequena e micro empresa deve agir para conter essa inquietação destes funcionários?
A sobremesa, desse legítimo banquete indigesto, pode ser a própria universidade. Quem aqui se formou em exatas, como tecnologia e engenharia? Agora pense um pouco no seu período de faculdade e me responda: quantas aulas você teve sobre comunicação? Quantas vezes (fora o seu trabalho de conclusão do curso) você foi incentivado a escrever ou estruturar seus trabalhos e pensamentos?
E a cereja da sobremesa: você seria capaz de descrever tecnicamente como funcionava o projeto em que você atuou há dois anos atrás? 

Obviamente não. Não sem ter alguma referência para consultar. Mas isso é importante pra você? Possivelmente não. Mas e para aquela pequena empresa, onde você atuou, isso não é importante? Afinal, ela vive apenas deste projeto!
Não sei se consegui agora contextualizar bem o cenário. Mas acho que consegui passar para você, caro leitor, como uma pequena e micro empresa precisa lutar contra tudo e contra todos para sobreviver no mercado.

Estima-se que mais da metade das pequenas empresas morrem após 7 anos no mercado. Será que é por funcionários desmotivados ou por falta de conhecimento? Está aí um bom assunto para um trabalho de conclusão.

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