Este foi um post que
rendeu bastante na época em que foi postado. Acho que vocês irão gostar. Em uma
das listas que eu assino, discuti com um membro a respeito de um termo que
utilizei quando falava da necessidade das empresas reterem conhecimento, e como
elas se tornam “REFÉNS” dos seus funcionários. Este termo “refém” foi o motivo
de um debate bem interessante.
É claro que eu não
acredito que realmente as pequenas empresas sejam, de fato, reféns de seus
funcionários. O termo é mais figurativo do que realmente literal, neste caso. O
que eu falo com propriedade de quem já viveu em duas pequenas empresas (diria
até microempresas) e uma média empresa, é que é preciso de qualquer forma a
empresa se tornar independente se seus funcionários.
Vou dar dois casos,
um de cada empresa que trabalhei:
Na empresa do meu
irmão, uma legítima microempresa, o trabalho consiste em projetos arquitetônicos
pelo computador (3D e 2D). Éramos eu, meu irmão, minha cunhada e o funcionário.
O funcionário era a pessoa que manjava de TUDO. Ou seja, nós três chegávamos
até um certo nível (digamos, modelagem 3D) e o funcionário era o responsável
por transformar aqueles objetos brancos e 3D numa fotomontagem realística. Esse
processo continua sendo uma caixa preta, até hoje… ou seja, se o funcionário
sair da empresa, a empresa vai pro buraco.
Nos projetos da
empresa onde estou, a situação é bem parecida. Os desenvolvedores possuem todo
o conhecimento dos projetos. Se perdermos os membros do grupo, perdemos todo o
conhecimento adquirido.
Vejam, falamos de
situação em que micro-pequenas empresas precisam sobreviver dia-a-dia ao
mercado burocrático e sufocante que o governo provê… são raríssimas as empresas
que conseguem parar, respirar, organizar e seguir adiante. É tudo feito
sob-demanda.
Então, a solução, é
claro, é fazer as “vontades” dos funcionários. Tornar a empresa atrativa para
que estes se sintam satisfeitos e reconhecidos, e assim, permaneçam na empresa.
Mas isso pode ser
temporário. Pode surgir uma Dell ou uma HP ou outra empresa de porte
semelhante, e pagar um salário 2 ou 3 vezes maior do que o que ele recebe. As
chances de perder o funcionário são enormes. Ou ninguém aqui ficaria tentado?
Enfim… eu tentei
mostrar como, de forma figurativa, as pequenas empresas são sim reféns de seus
funcionários. Isso é bom para as pessoas, sem dúvida. Mas para os gestores,
pode vir a se tornar uma constante dor de cabeça… e se os funcionários resolvem
usar e abusar disso?
Por essas e outras
que eu reafirmo que o capital maior que uma micro-pequena empresa precisa
atingir é o CONHECIMENTO. Tendo isso amadurecido, ela pode se dar ao luxo de
valorizar as pessoas, que são, obviamente, os motores dessa complexa
engrenagem.
O post rendeu dois
comentários bem interessantes.
Antes de mais nada,
quem acompanha o meu blog sabe o quanto eu tenho de preocupação com a questão
PESSOAS. Eu trabalho no nível tático, então tenho que agradar aos funcionários
e à diretoria, e ao mesmo tempo lutar para eu mesma estar motivado para
realizar isso. Não sou, nem nunca serei, uma extremista ou mesmo adepta de
técnicas que visem controlar ou manipular pessoas nas empresas.
Sou daquelas que
pensa que um funcionário desmotivado é uma das piores coisas que uma empresa
pode ter. Se você duvida, veja meus posts anteriores e veja se estou mentindo.
Aliás
a própria ideia do blog, de mudar a pequena empresa onde trabalho, visou
exatamente mudar o tripé: pessoas, processos e conhecimento. E é isso que você
encontrará neste blog, sempre!
Voltando aos
comentários:
O Sr Souza publicou
o comentário sobre o assunto no meu blog. Ele concordou comigo na maior parte da
minha visão, inclusive indo mais a fundo no conceito. Inclusive fala de um
conceito bem-humorado e interessante para mensurar se a sua empresa está no
caminho certo ou não. É o chamado “Truck number”, ou seja, quantos funcionários
da sua empresa precisariam ser atingidos por um caminhão para que a empresa afundasse.
Se o número for pequeno, a empresa tem sérios problemas.
Essa questão de
conhecimento x funcionários é crítica para algumas empresas. Que tal a
Coca-cola? Quantas pessoas vocês acham que conhecem a fórmula da bebida? São
poucas, duvido que passem de dez! Dez pessoas, para quantas milhares de pessoas
que trabalham na empresa? Agora imagine se essas dez pessoas estivessem naquele
vôo da TAM, que caiu em Congonhas? Qual seria o impacto para a empresa? Por
isso é comum que algumas empresas obriguem seus executivos a viajarem em vôos
separados.
Se isso é crítico
para grandes empresas, o que dizer para micro e pequenas empresas?!?
Pesquisas apontam que
as micro e pequenas empresas correspondem a mais de 90% do mercado mundial!
Tendo isso em vista, podemos imaginar que a grande maioria das pessoas atua em
micro e pequenas empresas.
Transferindo este
cenário para o contexto brasileiro, a coisa fica mais preta ainda. Agora
falamos sobre burocracia. Uma micro e pequena empresa precisa de mais de três
meses para conseguir funcionar legalmente. Após isso, precisa lutar contra a
falta de incentivos do governo (quem vive com tecnologia sabe da dificuldade em
ter equipamentos de ponta, já que a “pequena taxa” de importação gira em torno
de 60%). Afora isso, temos os impostos e encargos trabalhistas. Pesquisas
comprovam que empresas simplesmente torram de 4 a 5 meses de sua receita com
impostos e encargos. Resta às pequenas e micro empresas investirem em
estagiários.
Mudamos para outro
contexto, o da tecnologia. Afora o problema dos equipamentos, já citados acima,
temos ainda a questão da mudança constante que o mercado possui. Novidades
surgem diariamente. O seu celular de hoje, por exemplo, estará saindo de linha
daqui um mês. As pequenas e micro empresas vivem, então, num mundo conturbado…
se elas param para respirar, as outras empresas passam por cima. O tempo é
escasso, as dificuldades são enormes.
Como a grande maioria
das empresas vivem de estagiários, temos uma questão bem interessante. A grande
maioria dos estagiários vêem as pequenas empresas como “trampolins” para suas
carreiras. Normalmente os estagiários possuem a faixa de idade de 18-22 anos.
São jovens, muitos ainda sem noção exata de compromisso e responsabilidade
(ainda bem que existem exceções, como eu mesmo já convivo com alguns!).
São jovens
brilhantes, na maioria. Mas que tendem a não “se acomodar” em ficar em apenas uma
empresa. Eles sempre querem novos desafios, novas realidades, novos projetos.
Então eu pergunto: como a pequena e micro empresa deve agir para conter essa
inquietação destes funcionários?
A sobremesa, desse
legítimo banquete indigesto, pode ser a própria universidade. Quem
aqui se formou em exatas, como tecnologia e engenharia? Agora pense um pouco no
seu período de faculdade e me responda: quantas aulas você teve sobre
comunicação? Quantas vezes (fora o seu trabalho de conclusão do curso) você foi
incentivado a escrever ou estruturar seus trabalhos e pensamentos?
E a cereja da
sobremesa: você seria capaz de
descrever tecnicamente como funcionava o projeto em que você atuou há dois anos
atrás?
Obviamente não. Não sem ter alguma referência para consultar. Mas isso é importante pra você? Possivelmente não. Mas e para aquela pequena empresa, onde você atuou, isso não é importante? Afinal, ela vive apenas deste projeto!
Obviamente não. Não sem ter alguma referência para consultar. Mas isso é importante pra você? Possivelmente não. Mas e para aquela pequena empresa, onde você atuou, isso não é importante? Afinal, ela vive apenas deste projeto!
Não sei se consegui
agora contextualizar bem o cenário. Mas acho que consegui passar para você,
caro leitor, como uma pequena e micro empresa precisa lutar contra tudo e
contra todos para sobreviver no mercado.
Estima-se que mais da
metade das pequenas empresas morrem após 7 anos no mercado. Será que é por
funcionários desmotivados ou por falta de conhecimento? Está aí um bom assunto
para um trabalho de conclusão.
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