quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Photoshop na imagem?

Uma boa imagem pede uma boa fonte. Seja para as organizações, pessoas ou para a grande mídia, ter uma boa imagem é tão importante quanto a marca ou título no mercado. 

Panorâmica, plougè, close, detalhe. Empresas, pessoas ou meios de comunicação, cada uma tem a sua imagem. Mas seja qual for a imagem, sempre haverá alguém para perguntar: “Tem Photoshop?”

Na comunicação corporativa isso parece ser mais recorrente por alguns motivos que resumo em dois.
O primeiro permeia os relacionamentos pessoais, pelos quais as fontes pedem ao colega de trabalho que tente melhorar sua imagem, dar um trato, por camaradagem. Coisa de amigo, sabe? Esconder uma marca ou reduzir a barriguinha. Já o segundo motivo circunda o fato de a comunicação expor a parcialidade de forma mais explícita, indicando que, por ser parcial, permite edição para a construção discursiva, em alguns casos aplicando o modelo narcísico de sorrisos e reflexos onde tudo é belo e perfeito, e em outros, permitindo a participação real dos públicos. Há aqui um ensejo para tratar da memória empresarial e da arte de ouvir e encontrar no outro mais do que a força de trabalho, mas também o aprendizado, porém este ponto terá que ficar para um artigo futuro. 

Já a imagem traz consigo um discurso revestido da busca pela verdade e imparcialidade que lhe confere ares democráticos, e não quero com esta frase soar revolucionário. Pode parecer incabível que numa fonte haja um tratamento na imagem capturada.  Isso traz para muitos um som oculto de vício, mácula ou mentira, por ser uma manipulação técnica. Outro ponto que pede pormenores, mas também deixarei as manipulações para um momento adiante.

A visão de verdade que propagamos gera dois pólos ora concorrentes ora convergentes, onde em um temos a crença irrestrita de que o que é falado é verdadeiro e no outro de que a mensagem é tendenciosa e seu conteúdo algo editado por interesses. Concorrentes pelo sentido, convergentes pela força.

Sobre eles, basta lembrar que toda produção humana é interessada e isso não é, via de regra, negativo. Por muito tempo a imparcialidade foi alçada ao pedestal glorioso da justiça social, mas em tempos de participação, ser imparcial é ser maquinal, robótico, cru. Os leitores têm buscado cada vez mais a parcialidade, a opinião declarada, a diferença que cada fonte, autor ou veículo faz dentro do diálogo social. 

Precisamos apurar nossa percepção sobre a mensagem que tentamos transmitir aos nossos interlocutores. Imagens fazem parte da estratégia discursiva. 

Com tantas imagens editadas, tratadas, recortadas e sobrepostas, parece que hoje tudo ganhou um ar mágico e ao mesmo tempo ficcional, mas a edição fotográfica é mais antiga. O que é novo, ou melhor, mais recente, é a aceleração em tamanha intensidade, onde os interlocutores passam a ser produtores de conteúdo e podem alterar, com algumas boas habilidades e os programas adequados, transformar a mensagem inclusive no que é parte do cerne cultural da modernidade, a imagem e seu apelo.
Não só a palavra se tornou ágil e plástica, mas a imagem ganhou contornos de verossimilhança que coloca em dúvida o conteúdo e a estratégia discursiva.

Deixo duas perguntas para serem respondidas por cada um. Em meio a tantos tratamentos e edições, qual é o espaço para a sinceridade crua? E crua, a sinceridade vale mais ou menos do que a fantasia do hiperbólico e do exagero?

Estou tentando responder a estas questões, mas sei que ela fará parte da minha trajetória moral ao longo da vida e espero que o hábito de se questionar faça parte também do cotidiano de todos.

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