sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Férias

O que são mesmo férias? Para muitos, é tempo de fazer todos os exames médicos que não fez durante o ano, de remodelar a silhueta ou a casa, de organizar papéis, cabeça e coração, de comprar mais uma inutilidade ou um bem supérfluo, de reformar roupas e estilo de vida, de pôr em ordem a bagunça da casa ou da mente, tudo que não fez antes. Queremos ocupar o tempo (finalmente ocioso) e substituir os compromissos profissionais por outros, da vida particular, não menos exigentes.
Férias é um tempo de suspensão das atividades, hora de parada para recompor forças, de recobrar energia e de reavivar o sentido da vida. Tempo de não fazer. De não se exigir tanto. De não planejar cada dia, de não se escravizar pela agenda, pelo toque incessante do celular, pelas múltiplas tarefas. Um período de descanso mesmo, de fazer um intervalo na vida. De se dar um tempo, de se permitir o ócio, a preguiça sem culpa, o repouso do guerreiro. Um tempo de quietação.
Não é fácil entrar em férias por não sabermos o que fazer com tanto tempo livre. Poucos sabem usufruir esse intervalo entre os afazeres, porque muitos sempre estão ocupados demais e em contato precário – quando não inexistente – consigo. Por isso, ao marcar as férias arrumam logo o que fazer. Muito, se possível, para preencher todas as horas. Para se lotar de compromissos, para que os dias não se esvaziem e para que a rotina apenas troque de roupa, mas continue como o algoz de todos os dias. Manter-se permanentemente ocupado é um jeito de fugir da própria companhia.
Marcamos viagens que nem sempre valem viver e voltamos tantas vezes mais cansados do que ao sair de casa. Vamos a lugares da moda, para justificar aos outros as férias que, devíamos lembrar, são nossas. Fazemos muita coisa, ocupamos completamente os dias até o retorno ao trabalho. Se fazemos o contrário, ficando no nosso recanto, num estado contemplativo, de apreciação do nosso lar e das pessoas mais amadas e próximas, com as quais convivemos menos do que seria desejável e necessário, padecemos de um juízo alheio estranho, que nos aplicam sem direito à defesa.
O mundo consumista ignora as riquezas da vida interior, desconhece as necessárias viagens de conhecimento pelos caminhos do coração, a importância das peregrinações pelos lugares onde andam as nossas emoções. Quem habita esse mundo desatento geralmente se surpreende se não temos respostas que correspondam às expectativas. Aliás, não fazer igual à maioria sempre surpreende, e, não raro, assusta. A previsibilidade é confortável, pois não pega desprevenido. E a nossa necessidade de aprovação, a pouca consciência da nossa própria identidade nos faz agir segundo o esperado, e isso muitas vezes é exatamente o avesso do nosso querer.
Férias é tempo de descanso, de estar conosco, de reorganização emocional e física. Não precisamos arrumar o que fazer. Podemos não fazer coisa alguma. Há quanto tempo tudo na vida está agendado? Nas férias, podemos escolher o que queremos (ou não) fazer e não continuar escravos do que os outros querem, exigem ou esperam de nós. E se perguntarem o que fizemos nas férias, podemos responder com um sorriso sereno e belo: “Fiquei em excelente companhia. Comigo”. Só nós saberemos o que isso significa, mas nem tudo se explica. A gente precisa viver para saber.

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