E isso, pode ser facilmente comprovado no dia a dia, pois já
faz certo tempo que ao selecionarem novos talentos, as corporações deixam
explicitamente clara a importância de captar pessoas com bom humor, uma vez que
elas são capazes de influenciar outros membros da equipe e, consequentemente,
contribuírem para a melhoria do clima organizacional.
Para Armando Ribeiro, consultor organizacional, o talento
bem humorado une a versatilidade às condições típicas de um trabalho. Para um
talento bem humorado, não basta apenas varrer uma calçada, é preciso
divertir-se, realizar aquela simples tarefa com criatividade e alegria.
"Bom humor é uma forma de viver procurando satisfação pessoal e do grupo
com quem convivemos. Pessoas que exercitam o bom humor, produzem mais, vivem
melhor, adoecem menos, gostam ou procuram gostar do que fazem", assinala.
Em entrevista ao RH.com.br, Armando Ribeiro enfatiza vários aspectos que
contribuem para o bom humor no ambiente organizacional, bem como as consequências
negativas que um personagem mal humorado traz para a equipe. A entrevista segue
logo abaixo.
RH - O ambiente de trabalho nos remete a assuntos
sérios. Contudo, as empresas têm valorizado o bom humor entre os talentos. Qual
a razão que leva a esse investimento corporativo?
Armando Ribeiro - Em primeiro lugar é preciso esclarecer que
é um engano pensarmos que um ambiente de trabalho é um local somente para
assuntos sérios ou carrancudos. O bom humor existe naturalmente quando as
pessoas sentem que o ambiente é favorável para o trabalho, o lazer, a troca de
experiências e o compartilhamento de saberes e ideias. Muitas vezes as pessoas
confundem bom humor com humorismo, com piadismo. Bom humor é uma forma de viver
procurando satisfação pessoal e do grupo com quem convivemos. Pessoas que
exercitam o bom humor, produzem mais, vivem melhor, adoecem menos, gostam ou
procuram gostar do que fazem. As empresas não buscam apenas o bom humor,
estimulam ambientes favoráveis ao trabalho e daí surge o bom humor, a alegria
e, consequentemente, uma melhor produtividade.
As organizações continuam sendo
sérias, só que com as pitadas de bom humor e alegria. Os clientes reconhecem
isso como positivo. Se as pessoas encaram os problemas profissionais com bom
humor, se acreditam que é bom trabalhar nesta ou naquela empresa, posso comprar
um produto deles.
RH - Para as organizações, qual o significado de um
profissional bem humorado?
Armando Ribeiro - Um profissional bem humorado é aquele que
procura olhar um problema por todos os ângulos, principalmente os pontos
positivos. É uma escolha. A pessoa escolhe que o dia será bom, alegre,
produtivo, diferente, criativo e de bons relacionamentos. Uma organização que
tem em seu quadro pessoas assim ganha em produtividade e na imagem junto aos
seus clientes. É sempre agradável relacionar-se com uma pessoa bem humorada.
RH - O que o talento bem humorado agrega às organizações?
Armando Ribeiro - Produtividade, criatividade, uma nova
visão sobre os problemas e os desafios diários. O talento bem humorado une a versatilidade
às condições típicas de um trabalho. Para um talento bem humorado, não basta
apenas varrer uma calçada, é preciso divertir-se, realizar aquela simples
tarefa com criatividade e alegria. É bom lembrar que um talento bem humorado
não precisa fazer piada para ser alegre, basta um simples sorriso e ele está
encantando e entusiasmando outras pessoas.
RH - O bom humor no ambiente de trabalho pode ser
considerado um atrativo para a captação de talentos?
Armando Ribeiro - Ambientes onde há condições de se
exercitar o bom humor significa que a participação é maior, mais ampla. Nesses
ambientes existem condições reais para opinar, dar sugestões e principalmente
para ouvir. É contagiante. Pessoas que têm tendências para o bom humor acabem
contagiando-se e querendo participar de tudo aquilo e não querem sair da
empresa em que atuam.
RH - O bom humor precisa estar presente em todas as esferas
hierárquicas da empresa?
Armando Ribeiro - Deveria estar presente em todos os níveis
hierárquicos. Não é uma tarefa fácil de conseguir. Em uma equipe, uma ou duas
pessoas bem humoradas são capazes de contagiar todos os demais. Isso facilita a
propicia uma melhoria da comunicação interna e solidifica os relacionamentos.
Se um determinado líder é na maioria das vezes bem humorado, ele influencia a
prática para toda a equipe.
RH - Por que um profissional de péssimo humor pode
prejudicar o clima de uma equipe?
Armando Ribeiro - Tudo que é ruim sempre prejudica. O mau
humor persistente pode ser considerado em alguns casos até como uma doença. De
maneira geral, tanto o bom humor quanto o péssimo humor são contagiantes.
Entretanto, uma pessoa que está sempre de péssimo humor pode estar com
problemas que não consegue solucionar sem ajuda. Mal humorados são intragáveis.
Depois de certo tempo, a equipe passa a colocá-los em isolamento e muitas vezes
isso leva à perda de bons profissionais.
RH - De que forma a empresa pode mensurar o bom humor de uma
equipe?
Armando Ribeiro - É possível medir a capacidade de uma
equipe ser bem humorada sem o rigor técnico-cientifico. Observar como os
problemas são resolvidos. Verificar quanta energia está sendo consumida pelas
pessoas ao encarar os desafios e buscarem as ações. No final do dia é muito
simples observar como as pessoas estão. Podem estar cansadas e esgotadas
fisicamente, porém parece que possuem certo brilho no olhar que indica que
hoje, ou melhor, naquele dia, as missões foram cumpridas.
RH - Quando o bom humor é "exagerado" passa a ser
abusivo e, consequentemente, pode gerar situações de assédio moral. O senhor
concorda?
Armando Ribeiro - Aí, nesses casos, não existe mais o bom
humor e se abre espaço para o humorismo. Tudo aquilo que é exagerado perde o
seu sentido real. Se passarmos a rir de situações desagradáveis, ofensivas,
podemos caminhar para o assédio moral e até sexual. É importante verificar se o
rir ou o se alegrar está ocorrendo no sentido de fazer o seu melhor e bem
feito. Não devemos rir das situações erradas apenas para diversão e euforia.
Aqui todo o cuidado é pouco. Façamos uma comparação: sabe aquela velha história
de que beber um copo de vinho diariamente pode ser muito bom para saúde? Pois
bem, imagine que esse copo tem a capacidade de se tornar em um litro e não ser
mais aqueles 150 mililitros consumidos anteriormente. Quais serão as
consequências para o organismo que o consome dia a dia?
RH - Que recursos as empresas devem utilizar, para que seus
colaboradores compreendam o verdadeiro sentido do bom humor?
Armando Ribeiro - Conversar é fundamental. Explicar as
diferenças entre bom humor e humorismo. Explicitar os limites de cada um dos
integrantes da equipe e direcionar o bom humor para as ações e os
comportamentos que efetivamente agreguem valor para a empresa e para as
pessoas.
RH - Em sua opinião, os Códigos de Conduta são bons
instrumentos para dar um norte aos colaboradores e levá-los a compreender como
o bom humor deve circular pela empresa?
Armando Ribeiro - Podem ajudar. Entretanto não são
instrumentos muito eficazes, pois os códigos de conduta são normas e regras que
podem tolher a criatividade dos bem humorados. Como colocar em um manual de
conduta que o bom humor é você acordar de manhã cedo olhar para o espelho e
dizer: hoje será um dia muito especial e eu vou curtir cada minuto dele. Eu escolho
ser bem humorado hoje?
RH - De que maneira o líder pode estimular o bom humor em
seu time?
Armando Ribeiro - O exemplo é base de tudo. Líderes bem
humorados são verdadeiros espelhos para os seus colaboradores. Favorecendo a
criatividade, ouvindo as opiniões, participando das reuniões informais,
cuidando para que não haja excessos. O líder tem um papel fundamental nesse
processo. Ele não precisa ser necessariamente o mais engraçado nem o mais bem
humorado, mas é preciso aprender a entrar no ritmo da equipe.
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