Em minha vida, várias vezes que precisei
romper com algo ou alguém, fiquei com a sensação de que me precipitei.
Outras vezes, tive a sensação de que levei tempo demais para tomar aquela
difícil decisão. Entre a precipitação e a decisão tardia, deve haver um
meio-termo. Como saber se temos um bom timing de ruptura?
Fui pesquisar. Primeira pista que encontrei: talvez devamos,
antes de tudo, entender a razão pela qual queremos romper e jogar o que temos
para o alto.
Maslow e McGregor já diziam que um dos desencadeadores desta
vontade é não ter nossa principal fome saciada naquela relação. Fome,
necessidade, motivadores - os nomes variam, mas basicamente dizem a mesma
coisa. Entendendo a teoria, fui buscar exemplos corporativos.
No trabalho, esta vontade de romper acontece quando o
colaborador, por exemplo, tem fome de reconhecimento ou qualidade de vida e a
empresa dá alto salário - e não dá, tampouco reconhece como importante, o que o
colaborador tanto valoriza. Ou quando ele tem fome de poder, status e dinheiro
e a empresa foca em qualidade de vida e responsabilidade social. E se o gerente
tem alta necessidade de ser amado, e sua empresa é altamente competitiva, com
foco em resultados? É provável que será uma liderança desalinhada com a
estratégia da empresa - não vai dar certo - é só uma questão de tempo para que
uma das duas partes tome a decisão da ruptura.
Parece que é uma questão de alinhamento entre a fome do
colaborador e o tipo de alimento que a empresa dá ou valoriza. Ou entre o que a
empresa dá e o que o colaborador valoriza naquela fase da vida.
No momento em que este desalinhamento é comprovado, é hora
de:
a) Conversar, para ver se algo pode ser mudado.
b) Se não puder ser mudado porque faz parte da essência da
empresa (ou do colaborador), alguém deve tomar uma decisão de ruptura.
Alguns podem dizer que é melhor esperar. Mas cada vez mais
acredito que se o desalinhamento é na essência - na missão, na visão ou n
cultura, é raro o sucesso através da paciência da espera. A paciência é mãe de
todas as virtudes quando o desalinhamento é de estilo, personalidade, algo
pontual ocorreu, uma fase ruim etc. Mas quando se percebe um desalinhamento
recorrente, é hora de ter coragem.
Quase sempre adiamos a decisão de ruptura por covardia.
Simplesmente não queremos ter aquela conversa difícil e vamos adiando, para que
tudo se resolva como mágica.
Também adiamos por medo do desconhecido. Como ficará a área
sem aquele funcionário - que está desalinhado e consequentemente desmotivado,
beirando a sabotagem - mas parece mais seguro tê-lo a arriscar contratar outro.
Engano.
Se este colaborador for talentoso, pior ainda. A excelência
operacional dele fará você adiar a decisão por anos, e ambos encobrirão ou
relevarão comportamentos inaceitáveis, que geram desgastes no dia a dia, em
ambas as partes. Uma árvore com raízes fortes, muitos frutos - todos amargos.
Se o salário for alto, ou a empresa tiver muitos benefícios,
mais uma razão para o adiamento, agora por parte do colaborador. Ele pode odiar
várias coisas, mas vai ficando, afinal, acha que não é capaz de encontrar nada
melhor. E esta dissonância (odiar, mas fingir que ama) é a principal causadora
de perda de performance e produtividade, estresse, doenças, comportamentos
compulsivos, infelicidade. Como permitimos isso como líderes? Como permitimos isso
em nossas vidas?
Se por um lado não podemos romper relacionamentos na
primeira discordância, na primeira fase ruim ou por causa de impressões não
comprovadas - que podem ser fantasiosas - também não podemos adiar rompimentos
por medo do desconhecido, covardia ou comodismo.
Entender que nada será perfeito todo o tempo, saber o que se
quer da vida e do trabalho, conhecer seus talentos e buscar um lugar para
praticar e expandi-los - estes são alguns caminhos que certamente nos permitem
a desenvolver um bom timing de ruptura. Em outras palavras, são comportamentos
que nos ajudam a perceber os sinais de que - realmente - é hora de mudar. E é à
beira do abismo que as asas tomam coragem de crescer.
Depois da decisão tomada, importante analisar "o que
fica quando passa", como diria Fernando Pessoa. Se ficar uma sensação boa,
de que foi uma decisão difícil, mas a melhor que poderia ter tomado, é porque
teve o timing correto. Se ficar aquela sensação do início deste artigo - de que
foi precipitado ou demorou tempo demais - aí é recomeçar o aprendizado.
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